Monday, November 19, 2007

Alguns poemas de Vieira Calado:

POEMA ÀS PALAVRAS

Há sempre uma palavra dentro da palavra
um gesto por exemplo
ou o zumbir dum insecto a
levantar o vento morto

Traz uma mensagem fugidia uma essência
que luz ao ritmo do tumulto da claridade
só perceptível pelos reflexos da própria luz
transparente interior das coisas

A sua transcendência identifica o fogo
o perfil exterior e seus artifícios intemporais

E apenas se lê em sinais indicativos
de virtuosos alquimistas procurando o oiro
na flecha no círculo dum arco íris caindo
magnânimo sobre o cinzento da terra

***

POEMA AO PÓ

A redescoberta que é ver o pó, cheirar o pó,
cheirar a pó. É um rumor inerte, um retrato
tangível de outras memórias perfurantes,
um vazio entre azuis e baços no chão da terra
gritando segredos abatidos ao silêncio ileso.

Praticar a ciência do pó é viajar pelos gelos
da montanha, um texto insondável de signos
sobre a água, reminiscência doutras águas
de apenas a cognição nua, virgem, das fontes

é desvendar a erosão, o murmúrio de colunas
gregas, efémeras, a inocente exaltação das aves
assim que o sol reacende a festa inadiável

e contemplar uma indústria sem nome e sem data,
sem prólogo, divina, puríssima, demoníaca.

***

POEMA À MIRAGEM

Este dia é apenas uma miragem
restos de sombras, sombra.

Dos seus beirais caiem fugidias ruas
em estilhaços sobre o lancil da luz,
pedaços de memórias, ruínas
de palavras nunca ditas.

Tudo é silêncio e névoa
nas grandes viagens transcendentais
ao coração matinal dos pássaros, à núbil
ciência abstracta dos insectos.

Imagem que se desfaz em imagens
de pólen, circunscrito a um lugar
cada vez mais longínquo

que se ateia e logo morre
em nossas mãos.

***

O EDIFÍCIO DAS PALAVRAS

O edifício das palavras,
o projecto inerente à ideia
e aos degraus da leitura,

o processo linear dos sons
e dos afectos

um pouco de embriaguês
para questionar as sombras e a luz

eis a explosão programada

o poema

a desobediência aos mistérios
no desassossego e na emoção
de dizer o indizível

à luz do dia.

***

QUANDO ME AUSENTAR

Quando me ausentar direi os nomes
de todas as essências, as cores inscritas
ao longo da estrada imóvel. Indulgente,
irei desenhando as formas do repouso,
o ouro e a prata do pôr do sol morrendo
sobre as árvores da montanha alta,
um redemoinho de pura água refazendo
em água o limbo deslizante do rio.

E gritarei a minha infinita gratidão
pela geometria das distâncias vãs
que alentaram o meu sangue para o vazio
que enche de ar, o ar que respiramos.

Vieira Calado é poeta português autor (entre outros) dos livros de poesias: 37 poemas - Os Sinais da Terra - Poema para Hoje - Objecto Experimental - A Palavra em Duas - O Frio dos Dias - Como um Relógio de Areia - Poemas Primeiros (reedição) - Transparências - Lagos Ontem (2ª edição) - Por detrás das Palavras - Terrachã - Poemetos - Poemas Soltos & Dispersos.

2 comments:

vieira calado said...

Obrigado, amigo!
Vou registar que postou esses poemas. Estou a fazer uma escolha, entre os que assim foram dados a conhecer, para publicar
um livro "Soltos & Dispersos II"
que, tal como o I, é feito a partir de alguns inéditos, poemas revelados em blogs, ou publicados em livros colectivos ou antologias.
Um abração.

Anonymous said...

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