Thursday, January 31, 2008

2 do Erly Welton Ricci

Notas para um poema

- Esparta parte
em 300 mitos

- Espere a chuva
na janela

- E o circo
entre ela

- Nenhuma outra
lava a pedra lavrada

- Alma de pedra
na calçada

- Muro de ossos
e de espada

- Argamassa
é a carne
arremessada

- & a chuva já
não lava nada

- Enchurrada
carrega a alma

- lagoa de mitos
assoreada

***

*Hipóstase (substance unknown)

há metafísica na árvore e em cada semente lançada ao solo
há metafísica na terra, na curva das estrelas e na roupa do varal
há metafísica na ética e na política, no dinheiro ou na palavra
há metafísica nos olhos e nas manhãs, nas estradas e avenidas
no ócio e no trabalho há metafísica
há metafísica na grama molhada
há metafísica no medo ou na coragem
na pudicícia ou na realidade
no espaço no tempo ou na causa da cidade
porque nós
dentre as espécies
somos a que nada sabe

Erly Welton Ricci


*Hipóstase, do grego hypostasis, significa subsistência, realidade. Na filosofia de Plotino, Deus se deriva em três hipóstases: Uno, nous (Inteligência) e alma, que ele comparava também, respectivamente, com à luz, ao sol e à lua. O termo também é encontrado entre os gnósticos. Um dos livros da biblioteca de Nag Hammadi se chama "A Hipóstase dos Arcontes".

A transcrição latina para Hipóstase é "substância", que, todavia, foi utilizada pela tradição filosófica com significado totalmente diferente do que a utilizada por Plotino. No sentido contemporâneo, é utilizado de maneira pejorativa, porém raramente. Dessa maneira, indica a transformação de um ser em um ente.

fonte:
Wikipedia - A Enciclopédia Livre

Wednesday, January 30, 2008

3 Poemas de josé félix

1.

o teu silêncio

Tens no teu silêncio
o segredo da comunicação

é por isso que os gestos
dizem da textura das palavras incomunicáveis

a árvore é uma frase feita
no teu corpo de seiva fresca
e os dedos, as mãos, os braços
limpam o espaço na mais leve brisa.

2.

a face de deus

Tenho a face de deus na minha face
e o meu sorriso continua a ter
a abertura apolínea dos crisântemos

na fragilidade do sol a sombra
de deus desaparece.

3.

a voz das pedras

Eu percebo a voz das pedras
e sei do silêncio das plantas
de como elas se dobram
ao sopro dos meus lábios
lúdicas como a contagem de estrelas

Na iluminação dos olhos
as pedras brincam nos dedos
como deuses presos na sua forma.

José Félix
in à sombra da amendoeira
fonte: Poetas Lusófonos


nota: t.s. eliot em 1932[The criticism of poetry and the use of criticism] disse: "A experiência da poesia, tal como outra experiência, só é parcialmente traduzível em palavras; nunca é aquilo que o poema diz, o que interessa; mas o que ele é.

Monday, January 28, 2008

Dois poemas de Alex Mattioli

Astrologia

Se em vagos zodíacos
I-N-U-M-E-R-Á-V-E-I-S efemérides
Contabiliza minha ciência,

Meu novelo de cristal desvenda o gato.

***

Mãezinha

Vê-se bem,
Mal se imagina:
Carinho de mãe,
Cara de menina.

Chega a noite.
“Vem me ninar”,
Finjo dormir
Pra fingir acordar.

Mas ouço trovões,
A luz não acende…
Grito, berro!
Mamãe não me atende.

Calo o meu choro,
Acendo uma vela…
Extingue-se a chama
Dos cuidados dela.

Alex Mattioli